Deus Criou o Mal ou Tudo Que Ele Criou é Bom?


Como o mal veio a existência é um mistério. Não enxergo o Velho e Novo Testamentos ocupando-se em oferecer uma explicação completa a esse respeito.  Porém, frequentemente, ouço e leio argumentos que “resolvem” a questão lançando sobre as costas de Deus a responsabilidade pela existência do mal. Em outras palavras, o mal existe porque Deus o criou.  Esta explicação, a meu ver, extrapola todos os limites da reverência a Deus. A rigor, considero-a, assim como  considerou Louis Berkhof, uma blasfêmia.

Os defensores dessa teoria costumam evocar Isaías 45:7 para tentar dar base escriturística à sua crença. A referência citada diz:

“Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Trad.: Almeida Revista e Atualizada)

Somos informados por R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr. e Bruce K. Waltke que a palavra “mal”, destacada acima, é ra’, no hebraico, que, juntamente com rõa’ e rã’â são “adjetivos cognatos da raiz r” [que] pode ter a conotação tanto passiva quanto ativa: ‘infortúnio’, ‘calamidade’, de um lado, e ‘perversidade’, do outro. Pode ocorrer em contextos profanos, ‘ruim’, ‘repulsivo’, e em contextos morais, ‘mal’, ‘impiedade’” (1998, p. 1441).

Os autores diz-nos que o substantivo ra’ denota, além de ferimentos físicos e atividades imorais, “épocas de aflição” (idem, p. 1442). Eles vinculam Isaías 45:7 à esta última interpretação. Ou seja, o mal que Deus diz criar não é o mal moral, mas uma situação de calamidade, infortúnio, ou, como diz a Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB), de “desgraça”.

Levando em consideração o contexto da referência em questão, não há dúvidas de que o mal que Deus estava criando se tratava do juízo (calamidade, infortúnio, desgraça) dele pelas mãos do Rei Ciro sobre os opressores de Israel. Babilônia experimentara contra ela o amargor do mal levantado por Deus. Sendo assim, não estamos diante um Deus criador do mal moral, mas sim de um Deus que executa juízos aos quais, do ponto de vista humano, não podem ser chamados de bem (tôb).

Outras referências citadas pelos acusadores de Deus são Lamentações 3:38 e Amós 3:6. Estas, de igual modo, devem ser circunscritas à interpretação supra. Penso que os advogados da teoria “Deus, o criador do mal”, devem admitir que a palavra hebraica ra’ é muito geral para ser usada como indicativo de que a existência do mal é um fato a ser debitado na conta de Deus.

Acredito que a pá de cal a ser lançada sobre esta blasfêmia é o que escreveu Paulo a Timóteo:

“Pois tudo que Deus criou é bom.” (1ª Tm 4:4).

O adjetivo que destaquei acima, é, no grego, kalos, e pode ser traduzido também por “nobre” e “belo” (COENEN; BROWN, 2000). Em outras palavras, tudo que Deus criou é revestido de nobreza e de beleza. Não há feiúra e nem repulsa nas coisas criadas por Deus. O mal moral é feio e repulsivo! O primeiro anjo a cair e Adão que se manifestem sobre.

Esta Escritura paulina está em perfeita harmonia com a crença do povo de Deus no Antigo Testamento que sempre O via como bom, independente das suas incertezas e da incompletude da concretização das promessas. Seu caráter e Suas ações eram reputados como bons. O que Deus criou é bom porque Ele é bom. Deste bom depósito não pode proceder o que não é bom. O mal não é bom e nem bem.

Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom…” (Sl 118:1).

Desta maneira, emerge uma pergunta: Deus criou o mal ou tudo que Ele criou é bom?

Obs.: Sobre o a origem do mal moral, conversamos noutra ocasião.

Referências:

COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida Nova, 2000.

HARRIS, R. Laird; JR., Gleason L. Archer; WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.

This entry was posted on sábado, 26 de maio de 2012 and is filed under ,. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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